JM Cunha Santos
“Pretendo contar como a incompetência, intransigência e a arrogância de uma governante por pouco não lava com sangue os jardins da Assembléia e as praças de São Luís; de como uma sucessão de erros que vão desde um sentimento exacerbado de autoritarismo, até a estupidez de não saber lidar com reivindicações populares e movimentos sociais, arrastou a sociedade maranhense para um estado de pânico que jamais imaginamos viver”.
A declaração é do deputado Neto Evangelista em contundente discurso sobre a greve dos policiais militares e bombeiros do Maranhão.
...
Por pouco, muito pouco, uma primavera de sangue e horror, não apaga o outono da minha geração.
Eis uma síntese do discurso do parlamentar:
Senhor presidente,
Senhores deputados,
Pretendo discorrer aqui sobre o que considero uma mancha irreparável na História do Maranhão. Contar de como a incompetência, intransigência e arrogância de uma governante por pouco não lava com sangue os jardins da Assembléia Legislativa e as praças de São Luís; De como uma sucessão de erros que vão desde um sentimento exacerbado de autoritarismo, até a estupidez de não saber lidar com reivindicações populares e movimentos sociais, arrastou a sociedade maranhense para um estado de pânico que jamais imaginamos viver.
Pretendo que a História real seja contada e jamais desmentida pelos que, estando no Poder, pareciam dispostos a sacrificar as instituições públicas em nome de um legalismo que jamais substituirá a Justiça. A Justiça com que devem ser tratadas categorias que perderam seus ganhos salariais a meio caminho das más intenções e das distorções econômicas que rondam esse Estado e, ainda mais, esse país. Vou mostrar, doa a quem doer, que por pouco o Maranhão não é palco de uma carnificina orquestrada na insensatez da tirania e no vazio de um Governo que não soube até agora e não vai saber nunca para onde vai.
Senhor presidente,
Tudo começou num dia do mês de março quando uma comissão de militares desse Estado procurou a Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa do Maranhão, na tentativa de que suas perdas salariais – orçando já em 30% de seus ganhos – fossem incluídas no orçamento do Estado para o ano de 2012. Foi a primeira decepção. Nada aconteceu. E, por isso, no dia 8 de novembro, os militares e bombeiros resolveram parar. Uma comissão de deputados, junto com o vice-governador e o secretário de Segurança se comprometeu com os militares de que até o dia 23 de novembro o governo enviaria um projeto à Assembléia atendendo a essa reivindicação. Foi a segunda decepção. Nada aconteceu. As palavras do vice-governador, dos parlamentares e do Secretário de Segurança ficaram desmoralizadas, pois o governo não enviou ao Poder Legislativo projeto nenhum. No mesmo dia 23 os militares acampariam na Assembléia Legislativa reivindicando seus direitos.
No dia 24, quinta-feira, viemos quase todos os deputados para a Assembléia. Houve sessão e, logo após, uma reunião com os militares. Na segunda-feira, somente os deputados de oposição estavam neste plenário, mas mãos misteriosas desligaram o som e o Poder Legislativo, o Parlamento, senhores, foi silenciado pela primeira vez na História do Maranhão. O fato se repetiria na terça-feira, desta vez com a agravante de que as luzes do plenário se apagaram, porque um governo que vive no escuro interferiu para dividir com os representantes do povo sua própria escuridão.
Na segunda-feira à noite, as intimidações, ameaças de invasão do prédio da Assembléia pelo Exército, o pânico instalado na sociedade, fez com que eu, mais os deputados Bira do Pindaré, Eliziane Gama, Marcelo Tavares e os federais e Domingos Dutra, fôssemos conversar com o general Gomes de Matos, o coronel Peregrino e o coronel Medeiros Filho. A eles explicamos a origem do movimento dos policiais e bombeiros do Maranhão e pedimos ao general Gomes de Matos que entrasse em contato com o governo e pedisse que nomeasse uma Comissão de Negociação. Comissão esta que seria constituída do secretário Chefe da Casa Civil, secretário de Segurança, secretário de Planejamento, junto com o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Arnaldo Melo, representando este Poder, presidente do Tribunal de Justiça e Procuradora Geral de Justiça. O coronel Medeiros Filho entrou em contato com o secretário de Saúde, Ricardo Murad, mas este disse que não passaria a informação à governadora, pois ela não ia negociar com o movimento acontecendo porque a greve havia sido declarada ilegal. Então pedimos que o general Gomes de Mato entrasse em contato com a própria governadora do Maranhão, doutora Roseana Sarney e marcasse um encontro para explicar tudo e mostrar nossas preocupações. No outro dia de manhã o general convenceu Roseana Sarney, mas a mesma quis que o intermediário fosse o senador João Alberto e que o encontro fosse realizado nas dependências do 24 Batalhão de Caçadores. Era o mesmo estigma da intransigência, intimidação e ameaça que ainda ocupava a mente da governante desse Estado. De imediato, os deputados de oposição não aceitaram a sugestão de Roseana Sarney e a reunião acabou acontecendo na OAB, que também passou a ter representantes na Mesa, juntamente com o Exército e representantes do governo.
Na terça-feira, quando iniciou o processo de negociação, os militares não aceitaram a proposta do Governo e o mesmo aconteceu na quarta-feira, ficando uma terceira rodada de negociações marcada para sexta-feira.
A essas alturas, senhor presidente e senhores deputados, uma invasão do Exército parecia iminente, tal era a intransigência do governo e também porque os PMs e Bombeiros, desde a ditadura militar até hoje, são regidos pelo Código das Forças Armadas. Ainda tentamos, através de Representação assinada por mim, Bira do Pindaré e Eliziane Gama, conseguir na Justiça uma liminar para impedir que o Exército invadisse a Assembléia. Eram muitos sérios os indícios de que isso poderia acontecer. E só Deus sabe quais seriam as conseqüências de tamanho desvario, pois na quarta-feira à noite os policiais militares foram despertos pela notícia de que o Exército poderia estar nos portões do prédio da Assembléia. Assisti, da rampa do Palácio Manoel Bequimão, junto com Bira do Pindaré e Eliziane Gama, a uma avalanche de policiais e bombeiros se deslocando armados para a frente desse prédio para esperar pelo Exército. Foi uma coisa que jamais presenciei nem esperei presenciar na vida e que ficará marcada para sempre na minha memória.
O governo se esmerava em atiçar os ânimos, através de propagandas ameaçadoras no Sistema Mirante, intimidações, ameaças de deserção, de prisões, o que atrapalhou constantemente as negociações. Ainda enviei uma mensagem ao deputado Roberto Costa pedindo que ele interviesse para que aquelas propagandas fossem tiradas do ar, mas ele só chegou depois que as negociações estavam concluídas.
Vivi dias que jamais imaginei viver, no centro de uma paralisação militar, aqui nesta Assembléia, não insuflando o movimento, mas dando apoio a uma nobre causa e a todo instante buscando solução para o perigoso impasse.
Graças a Deus tudo terminou bem. Os militares voltaram ao trabalho e a sociedade à sensação cotidiana de segurança. Mas senti de perto que vidas foram colocadas em risco, porque o governo pouco cedeu. E isso só ensina, a mim e à minha juventude, o quanto é frágil a democracia deste país e, de modo especial, do nosso Estado; o quanto é fácil romper o estado de Direito, convocar a força bruta e minimizar os valores da Paz.
Saio deste episódio dignificado pela postura dos policiais e bombeiros que estiveram permanentemente abertos à negociação, dignificado também por deputados como Marcelo Tavares, Eliziane Gama, Bira do Pindaré, Cleide Coutinho que de tudo fizeram para evitar um confronto sangrento no Estado. Mas decepcionado, profundamente decepcionado e até humilhado pela prepotência e arrogância de um Governo que, com sua estupidez e intransigência, manchou para sempre a História política e social do Maranhão.
Nestes 9 dias vi os sonhos de liberdade que acompanharam a geração de meus pais serem substituídos por fuzis e metralhadoras que ocuparam os pontos de ônibus e ruas de São Luís. Senti pulsar mais forte o coração diante da notícia de que os urutus desembarcariam aqui para seviciar o Poder Legislativo e, nas entranhas de um parlamento mudo e escuro, soube que é também responsabilidade da minha geração cultuar a liberdade dos povos e a democracia acima de todos os sentimentos. Não tenho porque e não vou escamotear a verdade: por pouco, muito pouco, uma Primavera de sangue e horror não apaga o outono da minha geração.
Muito obrigado!
Se é assim, estamos com um governo na mão de uma celerada, irresponsável e desprearada, em que ponto chegamos, meu Deus, já pensou, numa catástrofe, seria o fim da picada!. Estamos sendo desgovernado por uma maluca, uma doida, não está nem ai, quanto pior melhor, que se exploda todos, ela estando longe, tanto faz, eita insensatez.
ResponderExcluirÉ isso aí, Irmão e eu ainda recebi críticas muito severas por divulgar essa verdade.
ResponderExcluir