quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O ENTERRO DA CPI

JM Cunha Santos

Na rede, porque as estradas são ruins ou porque os parentes são desleixados e esqueceram de pagar a mensalidade da funerária, seguiu entre cantos fúnebres e carpideiras contratadas, a megera da injustiça, a viúva negra do parlamento, a mefistólica Comissão Para Lamentar Inquéritos que engendrou liquidar o processo legítimo da disputa eleitoral de São Luís.

Morreu, mas é preciso dizer que foi muito poderosa: quando quebrou sigilos bancários ao arrepio da lei, quando desrespeitou a Justiça, fez quase duas centena de prefeitos correrem atrás de habeas corpus e irritou profundamente o governo. Estranhamente, morreu de morte morrida e de morte matada. Morreu sozinha, sem flores nem café preto, sem velas nem orações. Somente uma pessoa – se descontarmos as carpideiras contratadas – chorou sua morte: o deputado Roberto Costa. À beira do túmulo proferiu o discurso letal:


Oh solitária mãe do meu triste destino

musa silenciosa que agora já não zurra

fada caída com que tentei encher a burra

por ti não tocam hoje nem sequer um sino


ao ver-te inútil, suja e assim parada

servindo aos bichos nessa sepultura

sinto que um mandato não é nada

se quem lhe manda não está à altura


Quis agradar aos chefes com tua vitória

e em teu nome sinuoso infringi a lei

contigo eu quis entrar para a História

mas nem no teu velório eu vi Sarney


Não estava lá o carcará sanguinolento

nem veio prantear-te a Roseana

maldades de quem pensa que me engana

ou que pode me tirar do testamento


Oh minha CPI, oh CPI dos meus tormentos

teu fim é o meu fim, tua morte minha queda

e nem receberei por tão sofridos momentos

um único aperto de mão, uma única moeda!

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