JM Cunha Santos
Na rede, porque as estradas são ruins ou porque os parentes são desleixados e esqueceram de pagar a mensalidade da funerária, seguiu entre cantos fúnebres e carpideiras contratadas, a megera da injustiça, a viúva negra do parlamento, a mefistólica Comissão Para Lamentar Inquéritos que engendrou liquidar o processo legítimo da disputa eleitoral de São Luís.
Morreu, mas é preciso dizer que foi muito poderosa: quando quebrou sigilos bancários ao arrepio da lei, quando desrespeitou a Justiça, fez quase duas centena de prefeitos correrem atrás de habeas corpus e irritou profundamente o governo. Estranhamente, morreu de morte morrida e de morte matada. Morreu sozinha, sem flores nem café preto, sem velas nem orações. Somente uma pessoa – se descontarmos as carpideiras contratadas – chorou sua morte: o deputado Roberto Costa. À beira do túmulo proferiu o discurso letal:
Oh solitária mãe do meu triste destino
musa silenciosa que agora já não zurra
fada caída com que tentei encher a burra
por ti não tocam hoje nem sequer um sino
ao ver-te inútil, suja e assim parada
servindo aos bichos nessa sepultura
sinto que um mandato não é nada
se quem lhe manda não está à altura
Quis agradar aos chefes com tua vitória
e em teu nome sinuoso infringi a lei
contigo eu quis entrar para a História
mas nem no teu velório eu vi Sarney
Não estava lá o carcará sanguinolento
nem veio prantear-te a Roseana
maldades de quem pensa que me engana
ou que pode me tirar do testamento
Oh minha CPI, oh CPI dos meus tormentos
teu fim é o meu fim, tua morte minha queda
e nem receberei por tão sofridos momentos
um único aperto de mão, uma única moeda!
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