Editorial
JP, 18 de fevereiro
Atravessamos
muitas juventudes até que a idade comece a reclamar ao corpo coisas que o corpo
não pode mais oferecer. E entre os séculos XX, findo, e o século XXI, em
formação, juventudes diversas saíram às ruas carregando idéias próprias que
modificaram a sociedade para o bem e para o mal.
Entre
nós a geração “Paz e Amor” que emergiu de um encontro fantástico da juventude
mundial em Woodstock, numa época consagrada pelo protesto da poesia contra a
guerra do Vietnã e por tumultos raciais, fez do rock uma lenda, deu origem ao
ensurdecedor havy metal, fixou nas grandes metrópoles o movimento hippie, mas
conseguiu quebrar os padrões convencionais de comportamento que mediam o ser
humano por suas posses, pela cor da pele e outras imbecilidades que não se tem
tempo de citar.
No
Brasil, conhecemos a Jovem Guarda, movimento nascido a partir de um programa
televisivo protagonizado pelo rei Roberto Carlos. Cabelos longos, botas
vermelhas, canções de amor açucaradas inspiradas no rock britânico e
norte-americano, a juventude parecia querer alguma coisa que não identificava,
mas queria, de fato, alguma coisa. Era, no entanto, uma geração que
aparentemente não se drogava, cujos ídolos não tinham nenhum compromisso com as
drogas e, quase com o mesmo vigor dos poetas do romantismo, só queria falar de
amor.
Depois
o “coração de estudante” explodiu contra os excessos das ditaduras, inclusive
militares, instaladas no cone-sul e parte daquela geração começou a perceber
que atentavam contra sua liberdade. Um outro movimento decidiu que era proibido
proibir, canções de protesto ganharam as ruas, instalou-se a censura prévia, o
exílio e a clandestinidade, surgiu o tropicalismo, a bossa nova e mais uma vez
a juventude mudou o mundo ou, pelo menos, o Brasil.
E
é a juventude agora o tema da Campanha da Fraternidade no momento mais grave da
juventude brasileira, quando estão formadas as cracolândias e os governos
parecem não ver outra saída que não seja a internação compulsória. A violência
ganha contornos de calamidade pública, os assaltos não tem mais origem na fome,
mas na incapacidade de resistir à compulsão pelas drogas, as escolas estão
cercadas pelo tráfico e o conceito de família se dilui na dor e na impotência
diante de uma nova forma de escravidão.
É
uma geração que não está disposta a mudar nada, não luta por coisa nenhuma, não
canta, nem toma banho, que reside nas feiras entre as sobras de tomates e não
parece consciente do que acontece à sua volta. A eles também a igreja pretende
chamar para perto de Deus, porque suas famílias não conseguem suportá-los e todos
os seus atos têm um único objetivo: a oportunidade de se drogar ainda mais.
Bons
tempos aqueles em que se ouvia falar de conflito de gerações, de filhos que não
aceitavam a ditadura dos pais e pais que não admitiam a liberdade dos filhos. A
sociedade se movimentava para que as coisas fossem diferentes e diferentes elas
se tornaram. As idéias políticas e a filosofia em voga se confrontaram e a
juventude venceu. Mas o que pode vencer a juventude agora?
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