terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Fraternidade e juventude

Editorial JP, 18 de fevereiro

Atravessamos muitas juventudes até que a idade comece a reclamar ao corpo coisas que o corpo não pode mais oferecer. E entre os séculos XX, findo, e o século XXI, em formação, juventudes diversas saíram às ruas carregando idéias próprias que modificaram a sociedade para o bem e para o mal.
Entre nós a geração “Paz e Amor” que emergiu de um encontro fantástico da juventude mundial em Woodstock, numa época consagrada pelo protesto da poesia contra a guerra do Vietnã e por tumultos raciais, fez do rock uma lenda, deu origem ao ensurdecedor havy metal, fixou nas grandes metrópoles o movimento hippie, mas conseguiu quebrar os padrões convencionais de comportamento que mediam o ser humano por suas posses, pela cor da pele e outras imbecilidades que não se tem tempo de citar.
No Brasil, conhecemos a Jovem Guarda, movimento nascido a partir de um programa televisivo protagonizado pelo rei Roberto Carlos. Cabelos longos, botas vermelhas, canções de amor açucaradas inspiradas no rock britânico e norte-americano, a juventude parecia querer alguma coisa que não identificava, mas queria, de fato, alguma coisa. Era, no entanto, uma geração que aparentemente não se drogava, cujos ídolos não tinham nenhum compromisso com as drogas e, quase com o mesmo vigor dos poetas do romantismo, só queria falar de amor.
Depois o “coração de estudante” explodiu contra os excessos das ditaduras, inclusive militares, instaladas no cone-sul e parte daquela geração começou a perceber que atentavam contra sua liberdade. Um outro movimento decidiu que era proibido proibir, canções de protesto ganharam as ruas, instalou-se a censura prévia, o exílio e a clandestinidade, surgiu o tropicalismo, a bossa nova e mais uma vez a juventude mudou o mundo ou, pelo menos, o Brasil.
E é a juventude agora o tema da Campanha da Fraternidade no momento mais grave da juventude brasileira, quando estão formadas as cracolândias e os governos parecem não ver outra saída que não seja a internação compulsória. A violência ganha contornos de calamidade pública, os assaltos não tem mais origem na fome, mas na incapacidade de resistir à compulsão pelas drogas, as escolas estão cercadas pelo tráfico e o conceito de família se dilui na dor e na impotência diante de uma nova forma de escravidão.
É uma geração que não está disposta a mudar nada, não luta por coisa nenhuma, não canta, nem toma banho, que reside nas feiras entre as sobras de tomates e não parece consciente do que acontece à sua volta. A eles também a igreja pretende chamar para perto de Deus, porque suas famílias não conseguem suportá-los e todos os seus atos têm um único objetivo: a oportunidade de se drogar ainda mais.
Bons tempos aqueles em que se ouvia falar de conflito de gerações, de filhos que não aceitavam a ditadura dos pais e pais que não admitiam a liberdade dos filhos. A sociedade se movimentava para que as coisas fossem diferentes e diferentes elas se tornaram. As idéias políticas e a filosofia em voga se confrontaram e a juventude venceu. Mas o que pode vencer a juventude agora?

Nenhum comentário:

Postar um comentário