Informe
JP, 24 de março
Se
o vocábulo não existia, está criado. São pessoas que, independente da
orientação sexual, não gostam de mulheres ou acham que o Criador as trouxe ao
mundo como mero acessório do homem, apenas para dignificar ou dar brilho e
beleza à perpetuação da espécie. Para estes, a mulher deve permanecer
escravizada às decisões masculinas e entre estes há os que vão mais longe,
achando que o corpo delas é imoral e deve estar coberto da cabeça aos pés, como
os fundamentalistas de Maomé.
Frases
se repetem: “Lugar de mulher é na beira do fogão e no tanque de lavar roupas”. “O
grande Movimento de mulheres ainda é o dos quadris”. “A mulher é um animal de
cabelos longos e idéias curtas” e por aí vai. Preconceito e medo, talvez mais
medo que preconceito, orientam essa fobia, ao contrário do que muitos pensam,
agravada nos tempos modernos em que, no caminho da luta pela liberdade, as
mulheres são maioria nas universidades, ocupam a maioria dos empregos, tem
vagas nos parlamentos, são chefes de homens nas repartições públicas,
executivas nos empreendimentos privados, dominam espaços antes exclusivos como
a literatura e a poesia e em grande parte já não dependem dos homens para
criar, educar e sustentar os filhos.
A
indisfarçável moral burguesa do século 21 fez da mulher esse animal assustador,
com brilho intelectual próprio, com opinião própria, que não aceita imposições
e a reação do Macho Alfa foi violenta: uma sangueira de sopapos, equimoses,
luxações, lesões corporais, pontapés, tiros e facadas contra a mulher nos lares
brasileiros humilha a condição humana.
E
é a Assembléia Legislativa do Maranhão, hoje, a Casa de Governo onde repercute
mais negativamente a maior ousadia feminina. Os homens descobriram que também a
mulher é um animal político, em todas as suas versões aristotélicas. E essa
condição está interferindo para que ali não se instale uma Comissão Parlamentar
de Inquérito destinada a investigar a violência contra a mulher. Eles temem que
presidindo uma mulher essa Comissão, a deputada Eliziane Gama, torne-se ela
mais tarde um empecilho às pretensões eleitorais do governo, uma força de
oposição que não gostariam de enfrentar.
É
um retrocesso monumental, no caráter político e humano de todas as reivindicações
do mundo moderno. Uma eleição não pode ser mais importante que a evidência de
todas as agressões covardes, aos milhões, que se perpetram nos lares do país;
que a oportunidade de punir uma violência histórica, de natureza física e psicológica
que, além de tudo, embrutece os filhos, criando bolsões de ódio, fúria e desagregação
incontroláveis.
Imaginem
que no Maranhão e somente no Maranhão uma CPI da Violência Contra a Mulher pode
ter como presidente e relator dois homens, o que em outro estágio poderia até
ser um sinal de evolução. Mas sabemos que não é assim. São elas que estão
apanhando e são os homens que estão batendo.
Parabéns, poeta! Cada vez mais patético o bloco da "maioria"...
ResponderExcluir