quinta-feira, 30 de maio de 2013

Internação compulsória

JM Cunha Santos

O país está farto de ver seus meninos e meninas sendo engolidos pelas drogas, especialmente o crack que deles consegue roubar até o sentido de auto-preservação, pois usam em qualquer lugar, sem temor da lei ou da polícia, sem nenhum cuidado com a saúde, sem preocupações alimentares e familiares. Essa situação gera tentativas de todos os gêneros para combater a escravidão das drogas e a Câmara Federal acabou de aprovar uma lei que estende a internação compulsória (contra a vontade do paciente) a todo o país.
O problema é que o Estado não se aparelhou para atender à demanda dessas internações, ou seja, não há instituições públicas habilitadas em número suficiente para receber o grande número de doentes que deve desembarcar nos próximos meses à tutela do Estado. Encarado já como epidemia, o consumo de drogas está fulminando uma geração literalmente escravizada para quem o amor, o trabalho, o estudo e outras conquistas da humanidade simplesmente deixaram de existir.
A discussão sobre a legalidade ou não da internação compulsória, o que em outras épocas se chamaria confinamento, torna-se inócua diante do crescimento da violência, do número de furtos, assaltos e homicídios que se eleva quase que na mesma proporção do consumo. Há quem diga que com a lei as pessoas vão ter o direito de exigir vagas para internação do Estado, o que acabará beneficiando a rede privada de clínicas psiquiátricas. Mas até a questão econômica torna-se supérflua quando deparamos todos os dias, nos bares, nas avenidas, nos restaurantes, nos arredores dos shoppings, nos sinais de trânsito, nas crackolândias, com verdadeiras coleções de zumbis, fantasmas amarelos mendigando qualquer trocado para saciar a fome de ácido que lhes corrói. E esses fantasmas são parte significativa de uma geração sem rumo e sem direção que deveria ser responsável pelo futuro desse país.
A nova lei assegura que a internação compulsória poderá ocorrer por solicitação da família ou responsável legal e servidores públicos na área da saúde e assistência social. Parece terrível e é, mas é preciso entender que o estado estará internando alguém que se ainda não roubou, vai roubar; se ainda não matou vai matar e que se não for detido estará morto dentro dos próximos cinco anos.
Não se pode mais enxergar a droga como um problema meramente legal e sim como um flagelo que aumenta o número de vagabundos, marginais, mendigos e bandidos em proporções que a qualquer momento podem fugir ao controle do Estado. A própria polícia já começa a ficar de mãos atadas, sem contingente e sem armas para enfrentar o tráfico e crianças, um número cada vez maior de crianças – imaginem isso – é atraído, contratado pelo tráfico para agir como bandidos na periferia da sociedade.
Dizer simplesmente que as famílias preferem a internação para fugir à responsabilidade é puro simplismo. Não há como tratar em casa, sem a presença de profissionais, pessoas a toda hora atacadas de surtos psicóticos, que se isolam dias seguidos ou nunca estão em lugar nenhum. É duro, é difícil reconhecer, mas o flagelo das drogas chegou a tal ponto que parece não haver outra saída para o país.

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