quinta-feira, 6 de março de 2014

O direito de matar

Editorial JP, 6 de março

São cada vez mais iminentes as possibilidades de um novo conflito mundial ou que pelo menos envolva algumas potências econômicas e armamentistas. A diplomacia no mundo revela-se cada vez mais obsoleta talvez – e que pensamento é esse! – porque existam armas demais, corpos demais que precisam ser gastos para rearrumar os conflitos sociais dentro da legalidade.
Há violência na Venezuela porque as ditaduras não se cansam de encontrar razões para manter a tirania e os tiranos jamais se cansam do poder. Na Síria, os que não são assados em praça pública pastam famintos pelas ruas como a mostrar mais uma vez ao mundo que guerras, inclusive guerras civis, são desgraças inomináveis, palcos sem fim dos maiores sofrimentos humanos.
A Rússia demonstra que o imperialismo não é apanágio de norte-americanos acantoados na OTAN para governar o mundo. É também uma decisão de países comunistas eou socialistas. Razões econômicas que os esfacelados pelas bombas e metralhas, os refugiados que correm desesperadamente para lugar nenhum jamais irão compreender, forçam exercícios militares que reúnem 150.000 soldados russos e milhares de mísseis nas fronteiras da Ucrânia.
Dizem que ser benevolente não é nem nunca foi a melhor forma de governar, mas num mundo globalizado por alianças militares, confrontos desse gênero ameaçam a paz mundial. O mais difícil é sancionar as razões que todos dizem ter, pois quando todos julgam ter direito e buscam impor suas vontades de armas nas mãos, o resultado é sempre que não sobrarão direitos a ninguém e não sobrará quase ninguém que ainda possa ter direitos.
O Estados Unidos reage e envia U$$ 1 bilhão para o novo governo da Ucrânia que a Rússia não reconhece como governo. O cheiro de cadáveres volta às nossas narinas com o mesmo furor que antecedeu a primeira e a segunda guerra mundial. As atrocidades voltam às nossas lembranças e, impotentes diante do direito e do desejo de matar; impotentes diante do poder de destruição das armas modernas, resta-nos apenas velar e sonhar com outra humanidade.
Nações se destruindo em disputas por petróleo, gás, territórios, religiões, tecnologia, ideologias, liberdade, supremacia comercial; em guerra pelo superávit do poder e sem qualquer compromisso com o principal superávit humano: a vida. Depois dessas guerras virão, como sempre, o silêncio, a sensação de que nos deixamos dominar pela loucura e a produção de documentos que jamais serão respeitados, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
É a Declaração que diz tudo o que não podemos fazer e tudo o que devemos fazer para alcançar a Paz. Mas para a Paz todos “eles estão surdos” e todos nós ameaçados por um terrível direito de fazer sofrer e de matar.

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