JM
Cunha Santos
A
televisão mostra a cena de uma mulher sendo despedaçada por mais de 100 pessoas
em via pública. Seu rosto parecia com o de alguém que surgiu na internet. Olho
para o meu cão e percebo que ele só morde se sentir raiva, fome, ou se
ameaçaram seu dono. Com gente é diferente. Matar virou prazer.
Na
minha mente ainda estão cenas de presidiários jogando futebol com cabeças
humanas numa penitenciária do Maranhão. O cachorro balança o rabo e sorri seu
sorriso de corpo inteiro com a ternura imensurável de quem não conseguiu ser
racional. Ele não me morderá se eu não machucá-lo, não bater e ferir, a não ser
que esteja louco. Com gente é diferente. Gente não precisa mais de loucura.
Gente gosta de fazer sofrer.
Agora
assisto na internet a prisão de um homem que jogou uma privada, um bloco de
cimento e louça sobre a multidão. Ele quis matar, não importava a quem, nem
quantos iriam sofrer a seu redor. Era o seu orgasmo. Matar virou prazer. Mas
sei eu que meu cachorro precisaria do faro, do cheiro ruim do ódio para atacar
alguém. E o arrepio é inevitável. Estou com vergonha de ser gente e não consigo
evitar e não sei como resolver.
Em
nome de Deus, um grupo terrorista seqüestra e vende meninas na Nigéria. Eles se
dizem muçulmanos, descendentes de Maomé e julgam que Deus não quer que mulheres
saibam de nada, que aprendam nada sobre nada do que ele deixou. Há paz nas
orelhas descansando sobre a cabeça do meu cachorro, o olhar é indefinido. Ele
não tem religião, mas não interrompe a liberdade de ninguém.
Há
um garoto morto na avenida, um cantor que penso já ter visto no mesmo palco com
minha irmã. Foi assassinado com vários tiros por causa de uma discussão no
trânsito. Meu cachorro não usa máquinas, não sabe dirigir, não vê televisão,
não acessa internet e... não mata por prazer.
Fiquei
com vergonha de ser gente. Quero ser um cachorro. Não consigo evitar.
Fantástico. Queria ser também um canino.
ResponderExcluirObrigado peka compreensão, Guarimas.
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