Editorial
JP, 29 de janeiro
Sem
foro privilegiado, a ex-governadora Roseana Sarney começa a ser investigada
pelos procuradores e delegados encarregados da Operação Lava-Jato. O Maranhão
está no centro de um furacão policial que apura o maior escândalo de corrupção
da história do Brasil. Não está solitária a ex-governadora, pois somam mais de
oitenta os políticos e autoridades citados nas delações premiadas de
funcionários públicos, executivos de grandes empreiteiras e doleiros incursos
no processo judicial que corre em Curitiba.
A
prerrogativa de função, na verdade um artifício da impunidade destinado a
burlar o julgamento da verdadeira Justiça, não está mais ao alcance da
governante que deixou o cargo e a vida pública logo assim que estourou o escândalo
da UTC-Constran. Sabe-se, agora, uma impressionante “comissão” de R$ 10 milhões
viajou milhares de quilômetros em lombos de mulas para, provavelmente, ser
repartida entre um doleiro e funcionários do alto escalão do governo Roseana
Sarney, sendo ela uma das principais suspeitas nas conclusões da Polícia
Federal.
É
de se imaginar o que possa ter acontecido no Palácio dos Leões nesses anos
todos, pois ao estrebuchar dos que ameaçam o doleiro na cadeia com a Justiça,
fica a imagem de um governo resvalando no submundo dos trambiques, da
desonestidade, da falta de respeito e da insensatez. E o Maranhão, no caso, é
apenas um exemplo do que se soube estar acontecendo no Brasil depois de
descoberta a corrosiva organização criminosa que agia na Petrobrás. E ninguém
se espante se a Operação Lava-Jato encontrar tesouros desaparecidos nos
canteiros da malfadada Refinaria Premium, a bomba de petróleo de Bacabeira que
jamais aconteceu.
Em
algum momento o legislador brasileiro, driblando os princípios da presunção de
inocência, criou os mais instransponíveis artifícios jurídicos para tornar
impune o enriquecimento ilícito. Um deles, sem dúvida, é o foro privilegiado,
que retira da sociedade maculada o direito de julgar quem transgride suas leis.
Sem essa prerrogativa, Roseana Sarney, João Abreu e outros estão ao alcance da
Justiça do Maranhão, e, se queremos ser sinceros, não estiveram jamais.
Não
se tome esse fato, porém, à luz das disputas paroquiais ou apenas como sobejos
de nossa vergonha e de nossa revolta. O que aconteceu aqui vem acontecendo, há
muito tempo, no país inteiro. Há que se bradar com todas as forças contra o
poder da corrupção, criar no povo brasileiro uma nova consciência política,
antes que o oportuno destrua a democracia e os tiranos, mais uma vez, ponham
fim à nossa liberdade. É, afinal, extenuante a sensação de que quadrilheiros,
propineiros e doleiros governam este país.
Uma
primeira lição é não mais permitir que ninguém, sustentando-se em recursos, embargos
e artifícios, fique fora do alcance da Justiça. Nem ela mesma. A permissividade
com que agem essas quadrilhas, a facilidade com que corrompem e se corrompe o
poder público, bastam para fazer entender que o Brasil está sendo vítima de
corrosão institucional.
E
quando as instituições apodrecem a sociedade não tem mais onde se socorrer
Nenhum comentário:
Postar um comentário