Não há censura, porque
também não há jornais. Explodiram todos. A equipagem do Flamengo teve que ser
trocada sob suspeita de que o vermelho estava sendo pintado com tinta que vazou
de um navio da Venezuela.
JM
Cunha Santos
Igual
a milhões de outros brasileiros, eu também desapareci. Aliás, coronéis, generais,
almirantes e marechais também sumiram no ar. Estamos vivendo sob a égide do Ato
Institucional 5 mais 5 que, no Brasil, substituiu a Constituição Federal.
Só
existem no país 3 partidos políticos: o PEB – Partido do Eduardo Bolsonaro, o
PJB – Partido do Jair Bolsonaro e o PMC – Partido dos Militantes do Carluxo.
O
prédio do Congresso Nacional foi transformado no Centro de Treinamento de
Fuzileiros Virtuais; o prédio do Supremo Tribunal Federal é, agora, o Templo
Mefistofélico de Silas Malafaia e o prédio do Superior Tribunal de Justiça é o
Parque de Torturas Físicas e Psicológicas Coronel Carlos Alberto Brilhante
Ustra.
A
Ordem dos Advogados do Brasil, com todas as suas secções, foi riscada do mapa.
Os advogados que não estão presos ou foram exilados, são obrigados a trabalhar
como publicanos caçadores de impostos.
Os
promotores públicos só estão autorizados a denunciar dissidentes políticos.
Fora disso, são afastados de suas funções e obrigados a fazer cursos de
lealdade com aquele príncipe assassino da Arábia Saudita.
As
sentenças dos juízes só são conhecidas do público e dos réus depois de uma
varredura completa de funcionários do governo. Que também podem modifica-las ou
adapta-las à nova ideologia do Estado.
As
mulheres, pobres mulheres, estão proibidas de trabalhar e estudar e passíveis
de punição se ousarem denunciar violências domésticas.
A
zoofilia foi liberada e o homossexualismo é punido com pena de prisão caso não seja
“resolvido” com avançados métodos de cura gay.
As
poucas emissoras de TV são estatais e só transmitem falas do presidente, dia e
noite, o que aumentou geometricamente o número de doentes mentais. Não há censura,
porque também não há jornais. Explodiram todos. Somente 3 jornais diários
circulam no país: o “O Zero 1”, o “O Zero 2” e o “O Zero 3”.
Depois
que fecharam todos os teatros do país, um monumento à Bomba do Rio Centro foi
erguido em substituição ao Memorial JK e uma estátua de Donald Trump depois do
impeachment na Esplanada dos Ministérios.
As
escolas de ensino médio e fundamental não existem mais. Foram todas
transformadas em Colégios Militares. E nos antigos prédios das universidades
onde funcionavam faculdades de Ciências Humanas, hoje são ministrados cursos de
Decapitação e Evisceração por professores com pós-graduação no Estado Islâmico.
A
equipagem do Flamengo teve que ser trocada. Censores e monitores do esporte
consideraram que o Negro é uma cor inferior e levantaram a suspeita de que o Vermelho
estava sendo pintado com tinta que vazou de um navio da Venezuela.
Depois
da decretação do Ato Institucional 5 mais 5, favelas inteiras foram metralhadas
e os cadáveres acumulados nas ruas foram tantos que a solução encontrada pelo
governo foi importar velhos fornos usados pela Alemanha Nazista durante a
Segunda Guerra Mundial.
As
policias militares dos estados foram desfeitas e as Milícias e Grupos de
Extermínio foram legalizados, conforme decreto presidencial que também lhes
garantiu a excludente de ilicitude.
Os
territórios indígenas foram entregues a empresas de exploração de minério e as
áreas de preservação ambiental passaram a ser administradas por madeireiros.
No
Palácio do Governo, todos são obrigados a bater palmas e continências ao novo
Rei da Selva, Eduardo Bolsonaro, que deu um golpe no próprio pai e tomou o
poder.
E
no amanhecer de um dia desvairado, outros que também desapareceram como eu,
acordaram com a notícia de que o Brasil acabava de declarar guerra à Argentina,
Cuba, Chile, Equador, Venezuela e Uruguai.
Que
pesadelo!
CREDO, ISTO SIM É UM PESADELO.
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