JM
Cunha Santos
50
mil
50
mil do Brasil
meia
centena de mil
50
mil pais de abril
50
mil mães de anil
filhos
feitos de fuzil
a
terra inteira pariu
desceram
por um funil
Somente
a fera é quem riu
(50
mil sozinhos dentro de 50 mil estrelas, arrastando meteoros e a vontade viver;
são os mortos de uma guerra entre a dor e o poder)
50
mil
50
mil do Brasil
com
sede, mas sem cantil
com
março, mas sem abril
sem
água, só com o barril
meio
milênio em cem mil
da
dor que à dor aduziu
mil
vezes cinquenta mil
Somente
a fera é que riu
(50
mil mortos - e daí? – não há remorsos - mas são gentes não são troços, são
humanos, não são bagres – e daí? – não há milagres nessa terra sem pulmões).
50
mil
50
mil do Brasil
tanta
dor já se expeliu
meia
metade de mil
oculta
sem ter covil
presas
de um mesmo ardil
da
carne grande e infantil
de
ser jovem e estar senil
Somente
a fera é quem riu
(Num
país sem analgésicos, meu coração antitérmico, procura por anestésicos feitos
de solidão; 50 mil que abraçaram, 50 mil que beijaram, não abraçam nem beijam
mais; sem corpo e passando mal, ficou a alma imortal tentando morrer em paz).
50
mil
50
mil do Brasil
é
mais de 40 mil
muito
mais que 30 mil
dois
dobros de 20 mil
mais
que três vezes 10 mil
quem
chora um chora mil
ou
chora os cinquenta mil
Somente
a fera é que riu
(E
enquanto se escondem na aurora, não sabem, Deus também chora, alagando o
horizonte e pergunta, limpando a fronte, onde aprendeu a chorar)
50
mil
50
mil do Brasil
não
minta, que você sabe
não finja, que você viu
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