JM Cunha Santos
Hora
de devolver a alma.
Mas
não a carreguem entre pedras
que
é frágil e escorrega no limo
não
deixem que passe entre supremacistas
que
é frágil e suja fácil e emborca ao sabor do vento
Não
é uma alma qualquer; é uma alma suada
que
se banhou em tanques de justiça
navegou
nos mares de Camões, enfrentou dragões
casou-se
com divindades no mar Egeu
amasiou-se
com pitonisas durante a borrasca
uma
alma estranha que nunca obedeceu ordens
e
quando se sentiu sozinha não teve dúvidas e beijou a solidão
Hora
de devolver a alma.
Não
a carreguem, entanto, entre tiranos
não
permitam que assista tiroteios no meio da tarde
que
se trata de uma alma muito antiga
que
enfrentou os faraós no Egito
que
discursou contra os césares de Roma
e
se juntou aos filhos da terra quando os tratores e os rifles chegaram
Não
é uma alma qualquer; é uma alma em muitos corpos
que
foi entregue aos meninos para que brincassem de assombração
uma
alma que nunca dormiu, nem acordou, sonhou apenas
que
esteve com os gatos nos telhados, com os pássaros no sol
e
quando sentiu o chão lhe faltar aos pés construiu seu próprio horizonte
Essa
é a minha segunda alma. Eu a entrego e devolvo limpa
Não
a deixem aqui que já lhe cansa estar no mundo
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